Todo mundo às vezes é entediante, teimoso e preguiçoso.
Todo mundo às vezes fica irritado, cansado e nervoso.
Todo mundo às vezes fracassa, tropeça e titubeia.
Todo mundo às vezes sente medo, ansiedade e culpa.
Todo mundo às vezes passa por vergonha, perigo e algo ridículo.
Todo mundo às vezes chora, fica doente e se sente impotente.
Todo mundo às vezes se depara com a injustiça, a mentira e a dificuldade.
Todo mundo às vezes tem pesadelo, sente um aperto e se incomoda com o outro.
E não, este texto não é sobre empatia. Este texto é sobre a vida.
Não existe uma vida neste mundo sem tudo isso e um pouco mais.
A diferença é que não é só isso, tem muito mais.
Todo mundo às vezes sorri, dá gargalhada e chora de dar risada.
Todo mundo às vezes come algo gostoso, se suja de comida e belisca algo da geladeira.
Todo mundo às vezes dá uma abraço, recebe um elogio e escuta uma história inusitada.
Todo mundo às vezes aprende algo novo, descobre um “mundo” novo e conhece alguém novo.
Todo mundo às vezes sente nostalgia, quer alegria e busca melancolia.
Todo mundo às vezes deseja mais tempo, mais sossego e mais dinheiro.
Todo mundo às vezes conquista algo, sonha algo e espera por algo.
Todo mundo às vezes gosta de algo bobo, lembra de algo fofo e parece um pouco tonto.
A vida diária é feita de muitos “às vezes” repetidos em sequências sem harmonia e sem ritmo, somos guiados por estações que não controlamos, só seguimos. Por isso ansiamos pelo que está distante e esquecemos do que está debaixo do nosso nariz. Mas ao mesmo tempo construímos memórias com os que estão próximos e nem lembramos que há pessoas do outro lado do mundo, ou até mesmo do outro lado do muro.
Aprender a equilibrar os pratos, sem ter equilíbrio, é a nossa condição básica. Parece até que tiraram isso de nós antes de nascermos, ou talvez os nossos antepassados tenham perdido esse direito depois de algum erro grave. O que nos resta é viver cada “às vezes” como todo mundo, ou descobrir que existe alguém que aceitou o fardo de entrar neste mundo para nos guiar a outro mundo. Um outro mundo onde não há “às vezes” somente certezas e plenitude. Um outro mundo onde não precisamos equilibrar pratos, pois o equilíbrio reina.
Este é o único caminho de paz: viver os “às vezes” caminhando para as certezas, viver as estações caminhando para a eternidade, viver o hoje sabendo que o amanhã virá seja aqui ou seja lá. E se for lá, enfim seremos livres.
Escrito por Beatriz Fumagalli