Estou assistindo pela segunda vez, um k-drama de fantasia chamado “W - os dois mundos”, de forma resumida ele conta a história da filha de um cartunista que vai parar dentro do mundo do webtoon que o pai dela, sr Oh, escreve. Na série o “tablet” onde o autor desenha os quadrinhos, ganha vida própria e começa interferir no enredo, e do lado de lá da tela o protagonista do webtoon, o jovem Kang, também ganha vida própria e começa agir como deseja. Porém, a vida desse personagem é extremamente sofrida, o tempo todo tem alguém tentando o matar e ele nunca entende o porquê, ao longo dos sete anos da história o protagonista tenta descobrir quem é o vilão que matou sua família e tenta matá-lo.
Eu sei que pode parecer maluquice, mas é interessante para quem gosta de fantasia. Porém, tem uma cena no episódio 5, que me fez refletir sobre a responsabilidade de todo escritor.
O protagonista do webtoon, vem parar no nosso mundo e encontra o autor, ele está extremamente frustrado por descobrir que sua vida foi toda criada por outra pessoa, mas além disso, ele está desesperado para perguntar para o autor “quem é que me persegue e matou minha família?”, essa pergunta é o tormento da vida dele, então apesar de sua frustração, ele vê aquele momento como uma oportunidade para nomear sua dor.
Entretanto o autor, sr. Oh, responde:
“Não tem um vilão, não há culpado, tudo foi inventado desde o começo, para fortalecer o protagonista, eu predeterminei estes sofrimentos só para você ficar mais forte.”
O personagem fica indignado e o acusa de ser cruel.
Só quem já escreveu uma história ficcional, sabe como dentro de nós aquilo é muito real. Mas mesmo que você não seja escritor, se já leu algum livro de ficção, é provável que saiba a sensação de “entrar dentro da história”.
Acredito que esta reação seja algo codificado em nós pelo Grande Autor e Criador, Deus. Ele criou o mundo e a humanidade como uma grande obra. E quando nós escrevemos um mero livro, estamos sendo um reflexo do que Ele já fez com maestria e supremacia. Usando da liberdade imaginativa, digo que nós somos a narrativa do Autor Deus, e como sua criação, muitas vezes nos enchemos de questionamentos a respeito do que passamos, pensamos, sentimos. Nem sempre o Autor nos responde, mas quando o conhecemos, também entendemos que Deus nunca responderia o que o Sr. Oh disse ao jovem Kang, pois o mal e o sofrimento deste mundo que vivemos tem nome, razão e origem. Assim como encontramos no autor, esperança e propósito para o presente e futuro.
Imagina se no seu momento de maior sofrimento, envolvido pelas suas emoções você perguntasse “Senhor, por que isso está acontecendo?” e Ele te respondesse “Porque eu quis que você sofresse, eu precisava de mais um plot twist e escolhi você para aguentar”, isso seria cruel, e só de escrever soa assustador, pois ao irmos para a Bíblia, conhecemos o caráter do Grande Autor, e nEle não há mal algum, Deus é cem por cento bom e justo, manso e humilde. O mal existe do lado opositor e derrotado pelo sacrifício na cruz, as consequências dos nossos pecados pecados também existem como fruto de um mundo caído, e os sofrimentos mesmo que pareçam sem sentido, no final tem um propósito, e em Cristo encontramos o sentido e a esperança para perseverar. Deus nunca brinca com sua criação, pelo contrário Ele é zeloso.
E quando eu recebo o privilégio de escrever uma história, compartilhar da capacidade artística de Deus para criar o reflexo de um outro mundo, seja na nossa realidade ou não, também preciso assumir a responsabilidade de colocar sentido, propósito e esperança na minha narrativa. Isso não significa que todo livro tem que ter um final feliz, mas que como cristã escritora não posso representar meu mestre se coloco sofrimentos e maldades simplesmente com o objetivo de criar um plot twist na história, ou só para colocar uma carga emocional maior em determinado personagem.
Imagine se o personagem do seu livro saísse das páginas e te encontrasse frente a frente, para te perguntar um “por que?”, neste encontro você conseguiria dar uma resposta justa? Uma resposta capaz de acolher aquele personagem em meio as suas frustrações? Precisamos buscar no Grande Autor esta graça e sabedoria. Pois o que escrevemos influencia quem lê, e se não agirmos com responsabilidade, podemos reproduzir crises, crenças errôneas e até mesmo maldades.
Quero colocar nas páginas dos meus livros, enredos cercados com justiça, esperança e propósito, que seja direta ou indiretamente leve o meu coração e o de cada leitor ao Grande Autor. Seja inspirando, ensinando, ou relembrando, que cada história possa apontar para a Verdade Absoluta de que Ele é o Alfa e Ômega, toda dor é por enquanto, o mal deste mundo tem prazo de validade, e a vida de cada ser humano é preciosa para o Autor.
Escrito por Beatriz Fumagalli